India Mahdavi quer para si todas as cores
Ambientes com menos de três tons não têm vez
Ela é a mais internacional das decoradoras francesas. De origem iraniana, India Mahdavicresceu nos Estados Unidos e mudou-se para a Alemanha antes de chegar à França, onde estudou arquitetura. Ex-braço direito de Christian Liaigre, atualmente ela pertence ao restrito grupo dos grandes do circuito. De Paris, onde instalou seu QG em 1999, ela trabalha para clientes vindos de pontos diversos: Miami, Nova York, Mônaco, Londres... e, por toda a parte, impõe seu estilo, inimitável.
Na Cidade Luz, India acaba de assinar a decoração do Café Français, e revelará, ainda neste mês, o projeto da nova pâtisserie de Jean-François Piège (dono do grupo Thoumieux, que conta também com uma brasserie e um hotel). Está dando ainda os últimos retoques em um hotel em Courchevel, nos Alpes franceses, em parceria com o arquiteto Joseph Dirand.
Mesclar os estilos, adaptar-se ao gosto dos clientes do mundo inteiro (entre os quais muitas personalidades da moda e da arte), surpreender em vez de repetir a mesma receita – a India nunca falta inspiração.
O segredo de seu estilo neopop? “Um ‘max’ de mix”, responde. Basta abrir a porta das duas boutiques que levam seu nome (de moveis e acessórios), ambas localizadas na margem esquerda do Sena, para constatá-lo. Logo na entrada é possível notar seu senso de associações ritmadas e seu talento para dar vida aos mais diversos matizes – trata-se de uma pintora do espaço. À Casa Vogue, India fala com exclusividade sobre sua relação com as cores.
Que importância ocupa a cor em seu processo criativo?
É ela que dá vida a um ambiente. Minhas escolhas se dão sempre em função da luz existente no lugar. Num local triste e mal iluminado, prefiro usar cores escuras em vez de tentar clareá-lo. Isso lhe dará mais personalidade. Agora, por exemplo, estou terminando um hotel em Courchevel, na França. Com a neve, a luz é branca e ofuscante, o que me dá vontade de procurar tons não tão claros, como o do verde dos pinheiros.
Os lugares lhe inspiram determinadas paletas?
De fato, quando entro num ambiente, eu o imagino imediatamente em cores. A arquitetura muitas vezes me dá o tom. Para o Condesa df, na Cidade do México, eu não quis usar a paleta intensa de Barragán, tão tradicionalmente ligada à cidade. Preferi inspirar-me nos matizes do bairro popular no qual se encontra o hotel, elegendo para as paredes do bar um turquesa – essa cor deu logo uma nova vida ao espaço. Gosto que as pessoas guardem na memória uma imagem forte de um lugar. No Café Français eu sabia que queria trabalhar como trio azul-branco-vermelho, pois a praça da Bastilha, onde ele se localiza, é símbolo da Revolução Francesa. Usei esses tons em pequenas doses, nos sofás e nas poltronas. Para as paredes, optei pelo dourado.
Você é um dos raros profissionais do décor que consegue harmonizar dez cores ao mesmo tempo. Qual é o seu segredo?
Não gosto de escalas de duas cores, pois dão um efeito muito estático. Parto sempre de três ou quatro matizes, que equilibro em masculino-feminino, sempre com uma tonalidade predominante. Quando se tem apenas três cores num ambiente, o resultado é muito previsível. Quando se tem cinco ou seis, aí então dá para começar a brincar.
Quem são seus mestres?
David Hicks foi bastante genial. Como ele, nada me detém, permito-me tudo. O que me importa é o resultado final. Também sou fascinada pelo trabalho de Le Corbusier com as cores. Mas, para mim, tudo é fonte de inspiração. Fotografo em minha cabeça uma infinidade de combinações, inclusive aquelas que vejo nas pessoas na rua.
Em que projeto você sente que foi mais longe em sua abordagem?
O primeiro lugar onde comecei a colocar cor foi o hotel Townhouse, em Miami, no qual abordei os temas sea, sex & sun. Depois, veio uma constante evolução. Diverti-me bastante nos quartos do hotel Thoumieux, em Paris, pois misturei muitos tons e motivos florais ou geométricos. Idem para o primeiro andar do restaurante Germain, no qual fui fundo na mistura. Aliás, foi lá que percebi com que facilidade eu brincava com essa linguagem.
De onde vem tal aptidão?
Creio que essa necessidade de cores, e portanto de luz, se acha profundamente arraigada em mim. Cresci nos Estados Unidos dos anos 1960, junto com o tecnicolor. Isso me marcou profundamente. E mesmo nunca tendo vivido de fato no Irã, sou uma filha do Oriente. O gosto por cores é uma espécie de grito oriental que me desperta.
* Matéria publicada em Casa Vogue #337 (assinantes têm acesso à edição digital da revista)
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