Milão convoca para o Salão do Móvel 2013
Evento reforça vocação da cidade para arte e design
Claudio Luti, número um da marca italiana de móveis Kartell, assume a presidência da Cosmit, sucedendo a Carlo Guglielmi num momento de crise econômica acirrada na Itália e de necessidade absoluta de uma guinada. Como uma espécie de bandeira, inovação é o mote da próxima edição da feira, segundo Luti. “Para uma presença marcante no evento, as empresas italianas investiram toda a energia possível. Posso garantir que ‘inovar’ é a palavra principal. Temos nada menos do que 330 países a conquistar”, observa. Homem vindo da moda, apaixonado por barcos e esqui, Luti trabalhou por dez anos ao lado de Gianni Versace, na época áurea da grife, nos anos 1980. É natural, portanto, que considere a vocação de Milão para capital da moda e da arte, além do seu já instituído título de “capital do design”, como trunfo para obter sucesso de público e vendas.
“Em Milão, unir arte, design e moda é completamente natural – aliás, espera-se isso quando se vem à cidade. Tenho certeza do talento local para essa comunhão, e queremos cada vez mais reforçar essa sinergia”, afirma Luti. Foi anunciado, por exemplo, que todos os museus de Milão, em colaboração com a Cosmit, irão oferecer entrada gratuita a quem estiver na cidade no período do Salão do Móvel. E não são poucas as instituições: Museo del Novecento, Museo del Castello Sforzesco, Museo del Palazzo Morando e Museo di Historia Naturale, só para citar alguns.
O cenário em que foi realizada a coletiva de imprensa despertou a atenção dos participantes: o novo prédio do banco Unicredit, na novíssima área chamada de Varesine, ao norte de Milão, região que abrange a estação Porta Garibaldi do metrô e o badalado corso Como, com suas lojas de moda e design. Três anos atrás, o distrito era um canteiro de obras. O edifício de 231 m de altura e 27 andares, o mais alto de Milão, é obra do arquiteto César Pelli. Uma olhadela para o jardim conceitual do prédio, bem como para o entorno, revela o surgimento de uma cidade típica do século 21, com ares contemporâneos. Prédios modernos, com utilidade comercial ou residencial, foram erguidos onde antes existiam galpões desativados e hoje convivem com palazzi históricos – construções que dominam toda a Milão. Há ali um quê de Berlim, cidade reconstruída no pós-guerra.
Jean Nouvel: um nome, uma missão
Além do Salão do Móvel, a Cosmit apresenta em 2013 o evento bienal Euroluce, em sua 27ª edição, o Salone Satellite, na 16ª edição, e o Salone Ufficio, também na 16ª edição, somando 2.650 expositores. É também no Salone Ufficio que se concentram grandes esforços para reverter uma situação crítica: a acentuada queda nas vendas dos móveis de escritório. Para o intento, a Cosmit convidou o arquiteto francês Jean Nouvel a montar na feira uma instalação de 1.200 m². Nouvel, laureado com o prêmio Pritzker em 2008 e autor do Instituto do Mundo Árabe, em Paris, e do novo Louvre, em Abu Dhabi, entre outras construções célebres, interpretará o tema Project: Office for Living. “Ele recebeu carta branca para fazer o que quisesse. Seu trabalho será inspirador e nos dará uma visão do escritório do amanhã”, afirma Claudio Luti. Especula-se que os honorários de Nouvel por esse projeto giraram em torno de € 1 milhão.
Para o arquiteto francês, “o mundo não merece mais um prédio inteiro de escritórios, e ninguém pode ser feliz trabalhando num lugar assim”. Nouvel quer, literalmente, tirar a escrivaninha do lugar. “Precisamos propor o fim da segregação. Na Grande Paris, por exemplo, a multidisciplinaridade vem dando o tom aos escritórios em prédios mistos, nos quais escritórios viram residências. O office de amanhã precisa levar em conta as diferentes funções, as soluções diversificadas, a mobilidade e a iluminação para cada situação, e, sobretudo, incentivar a criatividade”, diz.
Nouvel critica não apenas o escritório clássico, todo dividido, setorizado, mas também o open-space – para ele, impessoal. “Proponho um pouco de desordem, em que a expressão individual resolverá a questão da intimidade no trabalho. Isso envolve uma nova colonização do espaço. Sugiro, portanto, uma contradição: a alegria de ‘viver’ no escritório.”
Mestres do design exaltam Milão
Além de Jean Nouvel, a apresentação à imprensa contou com outras presenças especiais: Antonio Citterio, Piero Lissoni e Patricia Urquiola, arquitetos e designers do primeiro time de Milão, verdadeiras âncoras do Salão do Móvel, com produção profícua para diferentes empresas e design cultuado no mundo todo.
Por que estar em Milão durante a feira? A pergunta, feita aos mestres, recebeu respostas entre esperançosas e bem-humoradas. “Estamos em um momento de passagem. Não se vem à cidade só pelo produto, mas por tudo o que está em torno dele”, diz Citterio. Patricia Urquiola evoca a celebração: “É o meu Ano-Novo. Com tanto trabalho, é o belo momento de apresentar o resultado final”. Já Lissoni faz o comentário mais jocoso: “Vir ou não a Milão? É como comparar sexo virtual com sexo real. A diferença é colossal”.
Nenhum comentário:
Postar um comentário